Que Educação Básica queremos para o nosso município?
A Secretaria
da Educação do Estado da Bahia abriu um importante circuito de interlocuções com
as secretarias municipais de educação para apresentação dos resultados
referentes aos anos de 2023 e 2024 das avaliações do Sistema de Avaliação
Baiano da Educação Básica (SABE). No dia 17 de junho do corrente ano, o Núcleo
Territorial da Costa do Descobrimento – NTE 27 – reuniu secretários, secretárias,
articuladoras e articuladores de todos os municípios do nosso Território para a
apresentação dos resultados locais.
A exposição
foi seguida de um rico debate sobre a política de recomposição de aprendizagens
necessárias à superação das defasagens cognitivas aprofundadas desde o período
da pandemia da COVID-19. Saímos daquele encontro com um grande mal-estar e alguns
desafios. Aumentam as desigualdades educacionais dentro de nossas escolas. Em
algumas delas temos, paradoxalmente, indicadores avançados acompanhados de
indicadores abaixo do básico. O panorama geral exige a assunção de
corresponsabilidades entre secretarias e comunidades escolares para a transformação
dos cenários apresentados pelas avaliações dos últimos dois anos
A avaliação do
SABE se aplica em grande escala no âmbito estadual e incide sobre as
proficiências em Língua Portuguesa e Matemática. No caso das escolas municipais,
as turmas avaliadas estão no 2º, 5º e 9º Ano do Ensino Fundamental. Quanto às
escolas estaduais as provas são realizadas com as turmas da 3ª Série do Ensino
Médio. A partir de critérios quantitativos são definidos os padrões de
desempenho que especificam os seguintes indicadores: abaixo do básico, básico,
adequado e avançado. Segundo os dados apresentados na reunião de 17 de junho, o
conjunto dos municípios do nosso território apresenta resultados dentro da
média estadual correspondente ao básico e ao adequado. No entanto, os dados
também apresentam uma tendência de aumento progressivo do número de escolas e
estudantes com percentuais abaixo do básico.
A situação
específica de Santa Cruz Cabrália exige atenção e uma rigorosa reformulação das
estratégias pedagógicas da nossa rede para assegurar o Direito de Aprender das
crianças e adolescentes matriculadas e matriculados em nossas escolas. Apesar
do avanço no IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) dos anos
iniciais do Ensino Fundamental – passamos de 4.6 no ano de 2021, para 5.4 no ano
de 2024 – em algumas escolas estamos muito distantes de alcançar o básico.
Os dados
apresentados pelo NTE-27 especificam escola por escola como estamos com relação
à proficiência em Língua Portuguesa e Matemática. Em várias unidades de ensino,
do total de 28 escolas da nossa rede, alcançamos percentuais a partir de 30% de
resultados abaixo do básico. O que isto indica? Não estamos conseguindo
assegurar às nossas crianças e adolescentes condições dignas de alfabetização e
raciocínio matemático. A situação piora de um ano para o outro.
Cada município
teve acesso aos dados detalhados por escolas. Um cuidadoso e bem elaborado
relatório intitulado Territórios de Aprendizagem foi disponibilizado pelo
NTE-27 para que os gestores e articuladores das redes municipais pudessem ter
conhecimento aprofundado do que ocorre em suas escolas. Os documentos reúnem as
principais informações estatísticas referentes aos indicadores das
proficiências em Língua Portuguesa e Matemática nos anos de 2023 e 2024. Os
resultados dos padrões de desempenho estão apresentados em termos percentuais.
As tabelas também nos oferecem os dados quantitativos referentes aos números de
avaliações previstas e realizadas. Essa configuração de dados disponibilizados
nos possibilita alguns exercícios de interpretações que podem nos ajudar a
compreender melhor o significado dos elevados percentuais de estudantes abaixo
do básico em nosso contexto municipal.
Partindo de
uma interpretação do material disponibilizado pelo NTE-27 apresentamos os dois
quadros a seguir, com o objetivo de expor de maneira objetiva o aumento
progressivo de escolas e estudantes do nosso município que não conseguem
alcançar as proficiências básicas em Língua Portuguesa e Matemática entre os
anos de 2023 e 2024. O Quadro I enfatiza um panorama geral do aumento
quantitativo de escolas e estudantes inscritos na faixa a partir de 30% abaixo
do básico em Língua Portuguesa.
Quadro I
Escolas com proficiência em
Língua Portuguesa abaixo do básico – SABE -2023/2024
Período Avaliado |
Ano Escolar Avaliado |
Escolas com índices
a partir de 30% abaixo do básico |
Quantitativo de
Alunos |
2023 |
2º ANO |
03 |
36 |
5º ANO |
01 |
10 |
|
9º ANO |
04 |
52 |
|
Total |
|
08 |
98 |
2024 |
2º ANO |
05 |
52 |
5º ANO |
08 |
88 |
|
9º ANO |
- |
- |
|
Total |
|
13 |
140 |
Elaboração do Autor –
FONTE – SEC-Ba/NTE-27 – SABE -2023-2024
O
número de escolas que ultrapassou a faixa dos 30% abaixo do básico no ano de
2023 corresponde a aproximadamente um terço do total de escolas. Esse número
sofre uma elevação de mais de 50% no ano de 2024, chegamos a quase metade de
toda a rede.
Quando
observamos o quantitativo de estudantes avaliados abaixo do básico, a situação
se torna mais preocupante ainda. No ano de 2023 tivemos 98 (noventa e oito)
estudantes com proficiência abaixo do básico em Língua Portuguesa (segundo o
somatório dos anos avaliados). Esse número equivale à totalidade de estudantes
matriculados em uma escola de pequeno porte do nosso município. Importante
destacar os números elevados entre o 2º e o 9º ano em 2023. Isso significa que
não estamos conseguindo alfabetizar as crianças das séries iniciais e, no ano final
do Ensino Fundamental, muitas e muitos adolescentes não conseguem desenvolver
habilidades básicas correspondentes ao seu último ano de formação.
No
ano de 2024 aumenta em mais de 50% o número de escolas, a elevação do
quantitativo de estudantes é de aproximadamente 50%, também. Um dado importante
referente a esse período é que uma das maiores escolas da rede municipal não
participou da avaliação, o que gerou para o ano de 2025 grandes perdas de
recursos do FUNDEB e de repasses dos impostos do estado da Bahia. Outro
destaque é que, embora a totalidade das escolas avaliadas tenha conseguido
reduzir os percentuais de 30% abaixo do básico, muitas ficaram entre 11% e 21%,
o que também é elevado.
A
situação piora quando acompanhamos os resultados na proficiência em matemática.
Aumentam os números de escolas e estudantes com resultados muito aquém do
esperado. É o que vemos no quadro a seguir:
Quadro II
Escolas com proficiência em
Matemática abaixo do básico – SABE -2023/2024 Matemática
Período Avaliado |
Ano Escola Avaliado |
Escolas com índices
a partir de 30% abaixo do básico |
Quantitativo de
Alunos |
2023 |
2º ANO |
02 |
16 |
5º ANO |
07 |
81 |
|
9º ANO |
05 |
90 |
|
Total |
|
14 |
187 |
2024 |
2º ANO |
05 |
52 |
5º ANO |
08 |
88 |
|
9º ANO |
04 |
65 |
|
Total |
|
17 |
205 |
Elaboração do Autor –
FONTE – SEC-Ba/NTE-27 – SABE -2023-2024
No ano de 2023 o total de escolas corresponde à metade do número de escolas da rede que não alcançam o básico na proficiência em Matemática. O total de estudantes abaixo do básico é o dobro do resultado da proficiência em Língua Portuguesa. A situação se agrava no ano de 2024, aumenta o número de escolas, assim como o número de estudantes. Ultrapassamos as duas centenas de crianças e adolescentes a quem o Direito de Aprender Matemática está sendo negado em nossa Rede Municipal.
O efeito mais perverso desse resultado é que o fracasso da e na matemática marca as histórias de vida das estudantes e dos estudantes como aqueles e aquelas que não conseguem aprender. Com os professores e professoras ocorre o contrário, ganham visibilidade pelo domínio de conteúdo em suas práticas de ensino, tornam-se invisíveis por aquilo que não conseguem ensinar.
Importante
ressaltar que os dados apresentados são uma pequena amostra de uma triste
realidade: o aumento progressivo de escolas e estudantes que não alcançam o
básico da Educação Básica no que corresponde à proficiência em Língua
Portuguesa e Matemática. Isso exige providências urgentes na condução das
nossas políticas públicas educacionais e, sobretudo, no compartilhamento de
responsabilidades com o projeto político pedagógico do nosso município no
presente.
A
pergunta que fica é a mesma que inicia esse breve relato da experiência
proporcionada pelo encontro com o NTE-27: que Educação Básica queremos para o
nosso município?
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