A educação na convivência com eventos climáticos extremos
Acervo Prefeitura de Santa Cruz Cabrália
Eventos climáticos extremos e a hostilidade da ação humana sobre a natureza constituem forças históricas presentes na formação do nosso município. A diminuição dos intervalos de tempo em que presenciamos longas estiagens ou tempestades intensas agrava nossas condições de existências locais.
As desordens provocadas pelas mudanças climáticas são as mais diversas, estamos entre a expansão de diferentes traumas psicossociais e a persistente ignorância em saber prevenir. A soberania da natureza na condução histórica do nosso presente exige esforços educacionais orientados na convivência com as alterações climáticas.
As chuvas do último 30 de abril em Santa Cruz Cabrália nos permitiram experimentar um movimento diferenciado entre o poder público e as comunidades locais. As ações educativas da Defesa Civil iniciadas no mês de março produziram rapidamente condições outras de travessias sociais nas tempestades. Desde a sua inscrição no âmbito da Secretaria de Segurança Pública do Município que a equipe da Defesa Civil vem desenvolvendo importantes mediações culturais entre as instâncias governamentais e as comunidades locais. Graças a essa atuação conseguimos socializar saberes e práticas necessários à transição entre as tempestades e a calmaria
Quando as chuvas chegaram, em pouco tempo foram montados abrigos, deslocadas famílias que vivem em locais mais vulneráveis, direcionadas as redes de comunicação social para a circulação de informações relevantes à população e constituída uma força tarefa com a participação de todas as secretarias municipais. A Rede Municipal de Educação ocupa uma importante posição nesse movimento. As escolas se tornam territórios de interlocuções do poder público com a comunidade.
Nesse movimento as configurações dos contextos escolares se redefinem. Além de se tornarem comunidades de aprendizagem na partilha dos saberes necessários à formação de atitudes preventivas, as escolas se transformam em habitat das populações atingidas pelas efeitos dos eventos climáticos extremos.
Nos acontecimentos mais recentes duas escolas municipais atuaram de modo decisivo no apoio às comunidades atingidas pelas chuvas. A Escola Municipal de Santo André, localizada na Orla Norte, e a Escola Municipal Antônio Sambrano Guerra, no bairro Capitão Luiz de Matos (também conhecido como Sapolândia). Além de estarem situadas em comunidades mais vulneráveis aos efeitos das chuvas, as duas escolas já participam de ações educativas desenvolvidas pela Defesa Civil no município.
O que muda nas escolas quando a convivência com mudanças climáticas ocupa as relações de ensino-aprendizagem? A partir das experiências mais recentes no nosso município com a presença da Defesa Civil nas escolas algumas mudanças chamam a atenção. Uma delas nos revela toda a comunidade escolar em pleno movimento interno, ultrapassando fronteiras entre salas e aulas e corredores, formando um amplo corpo social agenciado pelas formas de saber prevenir inscritas nas práticas pedagógicas da Defesa Civil. Essa mudança ocorre principalmente quando as ações educativas são direcionadas internamente para a comunidade escolar.
Outra mudança significativa ocorre quando a ação educativa busca aproximações com as comunidades envolventes ao contexto escolar. Nesse movimento, além da presença de todas as pessoas que fazem parte da comunidade escolar, estão presentes também pessoas, grupos sociais das comunidades do entorno, representantes dos poderes públicos e outros setores da vida social no município. A escola amplia os alcances dos processos educacionais importantes à fruição do conhecimento especializado da Defesa Civil sobre os eventos climáticos extremos. As duas mudanças até aqui descritas se expressam em circunstâncias de “tempo bom”.
Quando as intempéries se instalam, uma mudança mais radical atravessa o contexto escolar. A escola vira morada temporária das pessoas atingidas por catástrofes climáticas. Esse é o momento em que servidores e servidoras públicas de diferentes setores se reúnem em regime de mutirão com a comunidade, na transformação da escola em um lugar bom para se habitar enquanto duram os temporais. É nesse momento que aprendemos com a Defesa Civil que o saber prevenir resulta do encontro do saber especializado com o saber viver que está inscrito nas diferentes experiências de vida das pessoas que coabitam as escolas no meio dos temporais.
Nos últimos dois meses, conduzidos e conduzidas pelo protagonismo educador da Defesa Civil municipal, participamos desses movimentos em que as escolas alternam seus modos de atuar na, e com as comunidades do seu entorno, em diferentes situações de ensino-aprendizagem provocadas por eventos climáticos extremos. Tais experiências, ao meu ver, reafirmam os compromissos assumidos com o Programa Município Educador Sustentável como um projeto político orientador de um governo conectado com as questões ambientais do nosso tempo.
Inscrever a convivência com eventos climáticos extremos na agenda educacional do município nos posiciona politicamente na construção de um futuro viável para as gerações do presente. As experiências educativas provocadas pela Defesa Civil nas escolas nos permite aprender fazendo esse modo de educar, em que emergências climáticas conduzem nossas buscas no sentido de um saber prevenir. Estamos dando os primeiros passos para que outras experiências inspiradoras nos fortaleçam na construção coletiva de um Município Educador Sustentável.
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