O retorno às aulas e o compromisso com o Direito à Educação.
O retorno às aulas da Rede Municipal de Santa Cruz Cabrália no ano de 2025 coincide com o início de um novo governo. Os resultados das urnas nas eleições municipais do ano de 2024 elegeram a aposta no novo como caminho da mudança. Os desafios enfrentados desde os primeiros dias de gestão das políticas educacionais desenham um cenário marcado pela defesa coletiva do Direito à Educação, assim como pelo aprofundamento do debate público sobre as contradições históricas que persistem no contexto local.
A abertura das
escolas municipais a partir do dia 06 de março, ainda que indique um
descompasso com o início do ano letivo das escolas estaduais no estado da Bahia
(10 de fevereiro), indica também a precaução da atual equipe do executivo
cabraliense com a gestão cidadã das condições de abertura das escolas para o
acolhimento digno das crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos que
constituem as comunidades estudantis atendidas pela Rede Municipal de Educação.
A construção
histórica das políticas educacionais no município de Santa Cruz Cabrália está
marcada por avanços e retrocessos. Nos últimos anos assistimos à ascensão de um
ambicioso Plano Municipal de Educação (2015/2025) correspondente à grandeza do
Plano Nacional de Educação (2014/2024) – uma conquista equiparável à
consolidação da Rede Municipal de Educação no ano de 2008. Celebramos ainda a construção
do Referencial Curricular de Santa Cruz Cabrália; a criação e implementação do
Programa para Autonomia Financeira das Escolas de Santa Cruz Cabrália
(PROAFESC); a instituição da Política Municipal de Alfabetização; a aprovação
do Estatuto de Plano de Carreira, Cargos e Remuneração dos Profissionais da
Educação Pública do Município – destaca-se neste último documento, os
importantes avanços na inclusão das profissionais e dos profissionais dedicados
à educação indígena, o que confere ao texto grande densidade intercultural.
Todos os
avanços acima mencionados foram se fazendo em bases muito precárias. As
instalações físicas das escolas e da própria Secretaria da Educação, por
exemplo, permanecem em equipamentos depreciados pelo tempo e pelo uso público
constante e intensivo (o que é próprio de edificações públicas). Alguns desses
prédios, diga-se de passagem, foram ocupados provisoriamente à espera da
construção de novas instalações que nunca se concretizaram. Destaca-se ainda a
disparidade estatística entre servidoras e servidores contratados que atendem
ao quadro de pessoal da Secretaria de Educação. Segundo os dados levantados no
processo de transição dos 1030 profissionais que compõem o quadro de servidores
da SEDUC 384 são concursados e 647 são contratados. Há mais de uma década não
ocorre concurso público no município. O serviço de transporte oferecido à
comunidade escolar além de muito precário, acumulava denúncias junto às
instâncias judiciais que atuam no âmbito municipal.
O arranjo
entre esses avanços e retrocessos compõe a agenda desse início de governo
empenhado com a mudança e, simultaneamente, obstaculizado pelas barreiras
burocráticas e históricas que dificultam a celeridade das ações. Além de
recebermos uma rede marcada por precariedades longevas, recebemos um conjunto
de contratos vencidos para o atendimento de serviços básicos na garantia de
defesa do Direito à Educação: merenda,
transporte e tecnologias de gestão da rede são nossos maiores embaraços
burocráticos do momento. Estamos iniciando o ano letivo com a abertura de
processos licitatórios que não vão acompanhar o ritmo de nossas demandas
cotidianas com a Rede em pleno funcionamento.
O que nos
anima? Além da defesa do Direito à Educação e do já destacado empenho no debate
público sobre as contradições históricas com que lidamos, participamos de um
governo que nos seus primeiros meses de atuação expressa em atitudes públicas
quatro princípios comuns aos seus gestores e gestoras: o diálogo, o compromisso
cidadão com a vida pública, o trabalho coletivo e o engajamento intersetorial
no trato com as prioridades do governo.
Desde o ato de
posse no dia 01 de janeiro de 2025 até o presente temos mantido com a
comunidade local uma ampla e diversificada agenda de interlocuções sobre as
políticas públicas de educação do nosso município. No conjunto foram mais de
duas dezenas de reuniões com representações sindicais, Fórum de Gestores,
Câmara de Vereadores, Conselho de Caciques, Movimentos Sociais entre outros
grupos organizados da comunidade local. Em dois meses estivemos juntamente com
o Prefeito, Vice Prefeito e Secretários de várias pastas visitando escolas,
dialogando e conhecendo de perto situação de cada educandário.
O diálogo com
a comunidade orienta nossas posições na assunção do compromisso cidadão com a
vida pública. Ao reconhecermos as dificuldades enfrentadas nas escolas para a
garantia do Direito à Educação nos movimentamos com as escolas, nos colocando
ombro a ombro no compartilhamento das responsabilidades que nos colocam uns com
os outros. Assumimos o presente como desafio de transformação histórica no modo
de condução da vida pública nas escolas e com as escolas.
O nosso modo
de fazer tem se destacado pelo trabalho coletivo e pelo engajamento
intersetorial, exemplo mais recente tem sido o mutirão pelo retorno às aulas.
Toda a equipe do atual governo tem se mobilizado com o apoio da comunidade local
para realizar as reformas necessárias à reabertura das escolas. Estamos
conscientes de que esse esforço coletivo ainda que limitado ao atendimento de
reparos básicos, expressa o fortalecimento de vínculos do governo municipal por
dentro e por dentro e por fora, uma vez que rompe com as barreiras que separam
os gabinetes do executivo, ao mesmo tempo que rompe barreiras que separam as
escolas de suas comunidades.
O conjunto de
princípios que emergem do nosso modo de fazer a vida pública inspiram no presente
o compromisso com o Direito à Educação para as gerações futuras, sem perder de
vista as contradições históricas que desafiam a superação dos retrocessos que
impedem a consolidação de avanços alcançados e outros tantos avanços que ainda
temos pela frente.
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